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A vida é ecologia, política e economia

A vida é ecologia, política e economia
Christian Krambeck
May. 6 - 8 min read
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De certa forma é um privilégio ser de uma geração, nasci em 1975, que vivenciou uma nova era dos extremos (ver a “Era dos Extremos”, Hobsbawm), passando pela estabilidade tensa da Guerra Fria, algumas crises cíclicas do capitalismo, a exacerbação do hedonismo/consumismo/individualismo e vários outros ismos e a super produção num mundo amplamente desigual e injusto. Isso claro, se olharmos para a realidade (causas, consequências e interesses), além da nossa “bolha cultural” e sentir na pele, privilegiada, minha e de todos os caros leitores, o início de uma quebra de paradigma, uma transição de modelo socioeconômico ou uma mudança de era histórica, como aconteceu com a semana de arte moderna brasileira, em 1922, que inaugurou o modernismo em terras tupiniquins. 

Apesar da tentação, não pretendo falar da pandemia, mesmo considerando que a compreensão de sua gênese, impacto e desdobramentos sejam a chave para tudo que vem depois, inclusive as provocações desse texto. Confio que todos estamos, talvez pela primeira vez em 30 anos (novíssima democracia pós 1988/Constituição Cidadã) abrindo os olhos e tentando acordar de um longo sono alienante, que nos impediu de perceber ou aceitar que vivemos num dos 5 países mais desiguais e injustos do planeta. 

Neste sentido, a premissa que pretendo expor é que, ao vivermos num mundo absolutamente injusto e desigual, mantido por uma elite que opera em favor de seus privilégios e contra qualquer mudança, sofrem o planeta, os ecossistemas e as pessoas. Por isso precisamos construir coletivamente e operar uma verdadeira mudança de paradigma em todo o sistema metabólico da sociedade do século XXI. Também não vou expor minha opinião sobre o destino desta mudança, mas apenas falar sobre o que considero os 3 eixos fundamentais dessa caminhada. Não existe caminho sem este tripé! 

A ecologia não apenas estuda os ecossistemas, a biologia dos seres vivos e não vivos, fauna, flora, minerais e forças/elementos do cosmos (do qual somos partícula integrante), mas trata de toda a nossa relação física, digital, mental, psicológica, cognitiva e espiritual com nossa casa comum, o planeta Terra. Uma preciosidade raríssima, 1 em 1 bilhão de planetas que, devido a características específicas, permitiu o florescimento da vida complexa e de nós mesmos. 

Nada mais justo, ameaçados pelo aquecimento global, que nós mesmos causamos, do que repensarmos toda nossa existência e relação com o meio natural que nos acolhe, do qual somos parte integrante. Não apenas em estudos científicos (carentes de apoio e financiamento sempre); não apenas através de campanhas caríssimas de marketing (bem feitas e sem conteúdo); não apenas em discursos vazios e eleitoreiros de “nossos líderes”; não apenas em pequenas atitudes individuais amorosas e louváveis. Mas de forma efetiva, profunda, permanente, prioritária, estratégica e integral. Muitas vidas e ecossistemas dependem dessa mudança de paradigma. 

Afinal, não é nosso destino evoluir? Biologicamente, socialmente, cognitivamente, economicamente, psicologicamente...E isso não significa perceber que não existe “nós” sem todos que pensam e são diferentes de nós, sem os ecossistemas dos quais somos apenas uma pequena fração integrada. Será que somos tão importantes e inevitáveis a ponto de não existir futuro sem nós? Se o Big Bang tem 14 bilhões de anos, a Terra 5 bilhões, o homo sapiens 400 mil anos e as cidades 5.000 anos...O que acham? 

Mesmo assim, ainda estamos aqui, o que nos permitiu chegar, mais ou menos ilesos até o século XXI, foi a economia, que é basicamente o descobrimento da ferramenta (ossos, paus e pedra lascada), do fogo, da roda e da agricultura. A economia é, ou deveria ser, o que nos permite viver, fornecendo exclusivamente através do trabalho humano, comida, abrigo, roupas, remédios e perspectivas de futuro. 

A economia não é uma coisa abstrata, irracional, coisa de economista, apropriação do mercado ou sua mão invisível, ela é de todos nós, é feita e se movimenta apenas para satisfazer nossas necessidades e desejos, para nos permitir continuar vivendo, não apenas sobrevivendo, como 80% da população faz, que vive com menos de 2 salários mínimos. 

Então, não temos o direito de perguntar: a quem o sistema econômico atual serve? Depois de 300 anos de existência e 100 anos de hegemonia planetária, o que a economia está nos oferecendo e para o planeta? Parece justo para você? Paramos de verdade para pensar, discutir, imaginar e agir em relação ao atual estado das coisas? Quanto um vírus nos fez pensar ou sentir sobre isso depois de 30 anos adormecidos?

Agora uma pergunta mais instigante ou polêmica: qual é a única forma integral ou sistêmica de evoluir e superar o atual estado das coisas? Melhorar de verdade a vida da maioria das pessoas no Brasil e no mundo, de forma sustentável e equilibrada, onde o que formos capazes de produzir e criar sem prejudicar a natureza e o planeta, seja apropriada e dividida entre todos, conforme suas capacidades e necessidades. 

Em minha modesta opinião, a única forma de construir essa sociedade desejada e idealizada é através da política. Mas o que é política? Você já parou para pensar sobre ela? Digo, efetivamente, sua origem, qual necessidade humana a permitiu existir, os porquês, além dos “o que”? e como? de verdade? Então conta pra gente o que você considera a origem e o porquê dos seus preconceitos e por que nosso único caminho foi interditado pela mídia, pelo sistema, pelos próprios políticos e por nós mesmos?

Em tempo, a política como a compreendo é apenas a arte ou o método coletivo, respeitando e incluindo as individualidades, para imaginar, discutir, pautar e implementar a melhor, mais justa, e sustentável forma de vivermos agora e no futuro, em sociedade. Mas, como colocar em prática essa transformação? Não sei, só acho...de todas as formas possíveis, desde que você olhe para os outros, para a realidade como um todo, para a natureza e para os netos que talvez você escolha nem ter.

A transformação criativa é um bom começo, porque parte da capacidade inventiva das pessoas para produzir coisas com valor de uso para outras pessoas e sociedade como um todo (economia); respeita os limites do planeta e de nós mesmos (ecologia); e requer muita articulação, conexões, redes, aprendizado e cooperação (política). Além disso, fazer as coisas com propósito, se divertindo, buscando a felicidade e impactando positivamente o mundo, é parte do que queremos incluir nesse novo paradigma, seja um capitalismo humanizado, coletivismo, cooperativismo, economia solidária ou qualquer outro nome que queiram usar. 

Existem outros começos e dimensões de luta e construção, sempre tendo em mente que além de mudar o mundo se divertindo, temos que pagar os boletos, cuidar da saúde e viver o cotidiano. O ideal seria uma sincronia para a frente de toda essa energia do bem e transformação positiva, respeitando a autonomia e objetivos complementares de cada coletivo, instituição, partido, empresa, comunidade, pessoas e ecossistemas. 

Mas nada disso vale a pena, pode se desenvolver ou existir sem democracia, esta que temos, nascida na ágora grega, imperfeita e inacabada até hoje, mas o único caminho para a construção de um mundo melhor, inclusivo, igualitário, sustentável e livre para todos, com todos e por todos. Defender nossa democracia e nossa Constituição Cidadã passou a ser prioridade nos dias atuais, além de proteger, cuidar e zelar pela vida e saúde de nossos entes queridos, amigos e concidadãos de nossas comunidades e cidades.

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