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Troquei um jeans pelo direito

Troquei um jeans pelo direito
Olívia Fernandes Boretti
Dec. 7 - 3 min read
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Parece ate título de um conto, mas foi assim que fui parar no curso de direito.

Em meados de 99, quando terminei os estudos do 3º ano do segundo grau (era como chamavam naquela época), não consegui fazer, quiçá escolher um curso para a tão sonhada faculdade. 

Por motivos de saúde fiquei até 2003 sem poder fazer essa escolha. Tudo bem que em 2003 eu já não queria mais. 

Como não saia muito de casa, trabalhava dando aula de inglês particular. Os alunos frequentavam minha casa para aprender (outro dia conto como fiz curso de inglês).

Enquanto dava aula, mamãe passava a roupa dos clientes que ela tinha na vizinhança, era dessa forma que complementava a renda em casa, lavando roupas.

Certa vez ela recebeu 60 reais por um serviço, virou pra mim e disse, "toma, vai no shopping comprar uma calça jeans, você ta precisando".

A contragosto fui ao shopping comprar a tal calça, na minha cabeça passava a frase "se estou ficando em casa, pra que comprar roupas novas? "Engraçado que essa frase me visitou muito durante a pandemia.

Andando pelo shopping, passei por um estande de inscrição do vestibular de uma faculdade particular que ficava na cidade vizinha. 

Não parei no estande, fui parada por uma ex-aluna do curso de inglês, ela estava trabalhando no estande.

Conversamos sobre a vida, sobre por que eu estava usando uma bengala, sobre por que ela estava trabalhando naquele estande.

No meio da conversa ela solta "preciso bater a meta de inscrição hoje, faz aqui comigo, só 60 reais".

Levei um tempo pra explicar que não adiantava fazer a prova se não teria como pagar a faculdade particular.

Ela levou dois tempos explicando sobre o programa FIES e que a tal faculdade estava cadastrada.

Vencida pelo cansaço e também pela falta de coragem de ficar experimentando calças que não queria comprar, catei o telefone e liguei pra minha mãe e contei todo o "causo", inclusive da situação da tal bolsa Fies, na esperança dela dizer "larga mão filha".

Mas, pra minha surpresa ela disse "uai filha, faz, vai que dá". Enfim, era 2 contra um no momento.

Catei o catalogo dos cursos e comecei a ditar os cursos pra minha mãe, passamos pela parte da saúde rapidinho, "você mal consegue com seu sangue, imagina com o dos outros", foi o argumento vencido.

A parte de exatas nem li. Pela parte de Humanas, conversa vai conversa vem m(e o credito do cartão pré-pago do celular comendo solto), chegamos em História e comecei a fazer a minha defesa na escolha do curso.

Defesa esta que foi rebatida com "filha, se for pra dever para o governo, vamos dever um curso caro". Se tivesse um pouquinho de habilidade com exatas, não teria concordado com ela.

Voltei ao início da lista de humanas e quando falei Direito, mamãe disse "se eu fosse você faria esse".

Passei os olhos pela emanta do curso e vi filosofia, sociologia, psicologia, historia do direito e pensei "é, até que a ementa não é tão ruim".

Feito, um jeans trocado por um curso de direito.

Muitas coisas aconteceram ate eu terminar o curso em 2008. Qualquer hora conto o conto.

 

 

 


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