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Ninguém quer falar de lixo.

Ninguém quer falar de lixo.
Joana Wosgrau Câmara
jul. 23 - 5 min de leitura
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Lixo não dá voto, a gente esconde. Talvez existam 3 coisas permanentes: a mudança, a morte e o lixo que a gente produz. A gente se tornou tão sem criatividade que quando alguma coisa quebra em casa, a gente joga "fora" e compra outra, sem nem pensar que realmente não existe fora. (Um clichê é um clichê!).

O lixo reflete o que o ser humano não conseguiu lidar, o que ele deixou pra trás. Por isso que dizem que pra conhecer muito bem alguém, basta olhar para o lixo dessa pessoa (quando eu era criança e ouvia isso, eu achava que era numa vibe meio pornô e achava aquele papo meio eca). 

Mas pra lidar com nosso lixo é preciso imensa criatividade para resolver um problema sem criar outro. Aceitar que o que tu compra pela internet vai chegar com plásticos inúteis e que ao empurrar isso pra fora da tua casa ele não vai magicamente desaparecer. É preciso entender o que fazer com aquele resíduo que tu gerou dentro da tua casa - ou arranjar um jeito de nunca vais gerar aquele resíduo.
É isso que eu chamo de radical. Igual o esporte, é radical. Vai na raiz, ra-di-cal: relativo ou pertencente à raiz ou à origem; original. 

Originais, nós inconformistas é quem vamos mudar o mundo indo na raiz dos problemas e mudando eles estruturalmente. Questionar, mudar de ideia, aprender e melhorar um pouquinho as coisas a que a gente se dedica é a maior ferramenta que a gente tem pra ir na raiz de tudo que a gente considera injusto e desigual nas nossas comunidades. 

O grande desafio de 2020 é questionar nossas próprias escolhas e passarmos de uma vez por todas pra uma etapa mais coletiva da nossa sociedade. 
O lixo é a linha tênue que permeia a todos nós e eu vou resumir esse problema em 5 linhas:

1 pessoa produz 1,5kg por dia. Somos 450.000 habitantes em Florianópolis. 1,5 kg x 450.000 = 675 toneladas de resíduo por dia. 607.500 toneladas por mês. 1 tonelada custa (por baixo) 150,00 reais. 607.500 toneladas x 150,00 reais = 91.125.000 reais é o custo de enterrar todo o lixo de Florianópolis. E esse dinheiro sai do nosso bolso, da ou do contribuinte.* solução embaixo.

Se nos falta mais creches, postinhos de saúde, praças, em parte, é porque nosso dinheiro está indo, literalmente pro lixo. 

Como o país da criatividade, onde uma favela - lugar que pouquíssimos querem investir - chamada Paraisópolis montou uma rede foda de assistência social e deu um banho no Governo Federal; onde a gente dá o jeito que precisa pra tudo, como a gente não conseguiu ainda dar jeito no nosso próprio lixo? Como a gente não enxerga a conexão que isso tem com tudo que nos cerca e com nosso propósito de vida?

Mas, ninguém quer falar de lixo, ninguém quer falar do que diz muito sobre si. Todo mundo tem medo de se colocar nessa posição extrema de vulnerabilidade, com medo de julgamento, é claro. A nossa criatividade precisa encontrar meios de driblar esse medo pra finalmente a gente pode chamar todo mundo pra revirar essa sociedade ao invés de ficar sabonetando na internet. Os negócios do futuro nem consideram isso um diferencial, mas sim quesito essencial na sua execução. 

Errar é humano, todos erramos, todos aprendemos. Mas a gente precisa aprender, se posicionar, observar, ouvir, conversar, rir e se divertir nesse caminho.

A criatividade é essa porta que permite a gente criar e executar o mundo que a gente quer ver. Que ela permita que a permanência volte a ser somente 2: a mudança e a morte.

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*deste montante de resíduo, conseguimos separar eles em 3: 1. resíduos orgânicos, resto de comida, papel, coisas que podem virar adubo, terra. Representam 51% de todos os resíduos 2. recicláveis secos, embalagens que podem vir a ser recicladas, normalmente não serão, a nossa taxa de reciclagem é baixíssima. Deveriam representar 40% dos resíduos. 3. rejeitos, esses sim são coisas que não tem mais o que fazer, deveriam representar 9% de tudo. 
Para o grupo 1, a compostagem descentralizada é uma saída legal. Para o grupo 2 é diminuição ao máximo do consumo de produtos embalados em plástico e derivados. Para o grupo 3 somente resíduos indispensáveis como hospitalares. Não sou eu que faço as regras, é a natureza.

 


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