Você procura por
  • em Publicações
  • em Grupos
  • em Usuários
BACK

Não basta idealizar. É preciso empreender um mundo inclusivo.

Não basta idealizar. É preciso empreender um mundo inclusivo.
Viviane de Araújo
Feb. 17 - 4 min read
000

Eu tinha 21 anos quando tive meu primeiro contato com o termo INCLUSÃO. Antes de ser um conceito, naquela época, inclusão era uma ideia.

Era final dos anos 90 e eu estagiava na APAE de Florianópolis, em Santa Catarina. A ‘ideia’ era tornar realidade, um desejo antigo de encaminhar ao mercado de trabalho, em certa escala, os jovens e adultos que frequentavam a instituição – muitos deles, sua vida inteira. 

Me lembro do pavor que eu senti ao ser chamada para o desafio. Embora a ideia estivesse fundamentada numa ação afirmativa que existia desde o início daquela década - conhecida hoje como Lei de Cotas - o número de empresas que contratavam pessoas com deficiência intelectual era próximo a zero e não existia uma abordagem coletiva com significativa relevância e projeção de um mundo inclusivo, como vemos hoje.

Eu não tinha competências e experiência suficientes para assumir aquele desafio (na verdade, eu não tinha absolutamente nenhuma competência ou experiência). No entanto, aquilo fez tanto sentido pra mim que eu lembro como se fosse agora a sensação que me invadiu. Com borboletas no estômago e o peito inflado, eu sorri com o meu corpo inteiro e, na mesma hora, idealizei, projetei e realizei na minha mente e no meu coração o aconteceria. E então eu disse sim. E agi.

Os resultados foram incríveis. Vidas impactadas positivamente, novos paradigmas criados e uma grande transformação de todos que viviam naquele contexto. Mas o processo – confesso – foi um caos. Era tudo novo para os alunos e suas famílias, para a empresa parceira, seus líderes e demais funcionários, para instituição e, claro, para mim. Muita intenção, pouca noção, muito medo, diferentes expectativas de cada parte envolvida, falha na comunicação, conflitos, dilemas... Tudo misturado, acontecendo ao mesmo tempo, curando e se ajeitando no seu lugar até se criar uma dinâmica fluida e descomplicada. Na época, não entendia muito bem como aquilo tudo deu tão certo.

De lá pra cá, a inclusão deixou de ser uma ideia e passou a ser uma visão de mundo ampla, sistêmica e profunda. Ganhou força se tornando inerente e complementar ao conceito de diversidade e tornou-se condição sine qua non para construção de ambientes mais justos, criativos, humanizados e inovadores.

Acompanhando este movimento, liderei inúmeras iniciativas e, agindo com sentido, finalidade e direção, desenvolvi competências técnicas e comportamentais  e uma sólida experiência. A cada passo, fui me dando conta de que um mundo inclusivo se constrói com uma lógica empreendedora. Não basta idealizar. é preciso empreender a inclusão.

Ter um business plan (nesse caso um inclusion plan) e habilidades para vender sua ideia (em alguns ambientes inclusão ainda é uma ideia, em outros, nem uma ideia ainda é), negociar termos com determinação e flexibilidade,  criar etapas e processos, influenciar, liderar e corresponsabilizar pessoas. É preciso também ler cenários, entender riscos e oportunidades e ter muita criatividade para lidar com os perrengues (que não são poucos). Enfim, tudo o que um empreendedor precisa cuidar para entregar sua proposta de valor para resolver um problema. Neste contexto, a exclusão é o grande problema a ser resolvido.

A longo do tempo, além da deficiência, outros temas foram se aconchegando ao universo da inclusão e, embora cada um tenha suas particularidades, dentro do contexto sociocultural, a lógica é uma só. Quando aprendemos a lógica e agimos com coerência a ela,  nos tornamos parte ativa de contribuição e vemos de perto mais e mais pessoas ocupando o seu lugar ao sol, realizando seus sonhos, entregando o seu melhor e sendo mais felizes - o verdadeiro ganho de escala desse empreendimento chamado INCLUSÃO.

Um abraço empreendedor pra você!!

Viviane de Araújo :) 


Report publication
    000

    Recomended for you