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Criatividade. A voz no teu silêncio.

Criatividade. A voz no teu silêncio.
Lizia Barcellos
Feb. 12 - 7 min read
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Domingo passado, uma reunião que tinha como tema-base a Criatividade, acabou se transformando numa dessas conversas nas quais cabe todo tipo de assunto, desde vida com filhos, pôr-do-sol, trabalho e suas diversas perspectivas, eventos criativos, café ou cerveja, as inúmeras possibilidades da vida... E o resultado disso? Ideias saltitando na cabeça. Saí de lá preenchida e vazia ao mesmo tempo. Silenciosa. No Uber de volta pra casa, música no rádio, vento no rosto - sorte a minha o motorista estar com o ar-condicionado desligado - fim de domingo na avenida e esses elementos fizeram algo se mover dentro de mim. Mais tarde, lavando a louça, as palavras escreviam textos em minha tela mental. E é sobre isso que falo aqui. A criatividade está presente nos nossos momentos mais corriqueiros. Ela permeia todos os espaços e faz parte de forma inevitável, pois é um atributo humano incondicional. 

É verdade que o ato da criação é um momento de expansão. Ele é a explosão da atividade interna que acontece anteriormente e que, por ser um movimento que inicia de forma bastante subjetiva e, talvez, sutil, corremos o risco de não perceber que o todo da criação é composto por tantas outras partes que ocorrem antes e simultaneamente à finalização do ato criativo, além desta parte representada pelo produto final. Criatividade é a energia psíquica que corre nas veias de todo e qualquer ser humano e que nos faz ser quem somos enquanto seres naturais. Quer dizer, todos somos criativos.

Do ponto de vista psicológico, por ser, então, essa corrente psíquica presente no ser humano desde a sua formação neurológica primária, podemos dizer que nascemos criativos. E, enquanto habilidade, a criatividade se manifesta ao longo da vida, juntamente com o desenvolvimento da nossa personalidade, de acordo com nossas experiências emocionais, sociais e relacionais. Por se tratar de uma característica subjetiva, ela é expressa em maior ou menor intensidade em cada ser humano, em cada situação e está intimamente ligada aos processos de resolução de problemas, adaptação e maleabilidade diante de crises e mudanças. Ou seja, semelhante a um propulsor energético, uma descarga elétrica que desencadeia uma sucessão de atividades motoras, comportamentais, cognitivas e emocionais, ao mesmo tempo em que é, por sua vez, desencadeada através de uma associação de fatores que podem estimular processos de criação.

Claro que ela se torna muito visível em sua obra final. Porém, a obra é a materialização daquela voz que conversa com você nos seus momentos de introspecção. Sim! É necessária uma boa dose de racionalização pra colocar em prática a organização, o planejamento e a execução que vão tornar a criação realizável. Mas é fundamental estar atento ao seu mundo interno, ampliar seu nível de percepção em relação à você mesmo e aos outros, associar ideias alheias com as suas, estar aberto e permeável nas relações interpessoais e tudo o que elas representam - prazer e riscos - e, finalmente, levar pra dentro de você toda essa riquíssima bagagem que a vida dispõe e deixar-se ser tocado por isso. Sentir a vida, prestar atenção e reconhecer de que forma o mundo te afeta, quais emoções e sentimentos presentes em você nas diversas situações cotidianas… Isso é um ponto-chave no processo criativo! Levar em consideração o processo emocional e subjetivo presente na criação. 

Porque, embora o ato da criação seja um movimento de expansão, de extroversão - relacionado à ação, o processo da criação requer, um movimento de introspecção - relacionado à sensação e reflexão. É na introspecção que elaboramos nossas experiências com o mundo e nos reconhecemos como co-criadores das nossas realidades. E, então, após a elaboração interna de tudo o que recebemos de fora, podemos nos lançar pra ação e produzir, criar, realizar! Explicado dessa maneira, pode parecer um processo extremamente formal, metódico e sistemático. Nm certo nível, o processo de criação é sim algo que exige estratégias de organização e ação. Porém, a criatividade em si está diretamente relacionada ao nosso nível de espontaneidade. Quanto mais permeável à vida, maior a vazão dessa energia psíquica, mais fundos e largos os veios por onde correm os rios dos insights e intuições, mais vivo o oceano da criação.

Pra facilitar o entendimento, alguns fatores que podem te fazer calar a voz da tua criatividade:

  1. Idealizar e supervalorizar a criatividade como um dom ou talento de poucos, geralmente relacionado à criação de obras artísticas, por exemplo. Extremamente abrangente, a criatividade pode ser manifesta em algo simples como, abrir a geladeira (vazia) e fazer um banquete com os únicos dois ingredientes perdidos por lá. Ou, ainda, viver numa situação financeira julgada como escassa, de acordo com padrões sociais elevados, mas ser extremamente abundante na capacidade de superar desafios, manter a vida e, ainda, se divertir. E, vale lembrar, essa é uma característica encontrada em grande escala nas periferias brasileiras. Afinal, “o samba é o pai do prazer, o samba é o filho da dor…”
  2. Acreditar que a criatividade é baseada puramente em processos práticos, metódicos e sistemáticos e buscar colocá-la  in-vitro laboratorial, sem levar em consideração os processos emocionais, subjetivos e espontâneos presentes na produção criativa; Isso faz com que os insights passem despercebidos, sejam julgados como superficiais ou, o que é mais inibidor ainda! Encarar uma ideia explosiva apenas como um desatino que não deve ser validado, nem creditado, muito menos monetizado.
  3. Estar emocionalmente impermeável diante do mundo, das relações humanas e de si mesmo, em uma postura extremamente rígida e controladora. O excesso de regras, padrões e exigências te afasta das pequenas pausas mentais, das distrações necessárias pra te tirar do lugar-comum e te torna invulnerável para as percepções sensoriais e informações que o corpo transmite em situações nas quais a criatividade poderia ser o melhor recurso. Correntes servem pra não te deixar sair do lugar!

E sei que você não pediu nenhuma dica mas, a dica é: Você é criativo. E ponto. Basta silenciar e escutar. Perceba as suas pequenas e grandes sacadas, pegue dois limões e faça uma limonada.

 


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