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Falhas também são aprendizados.

Falhas também são aprendizados.
Paula Saccol
Sep. 26 - 9 min read
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Tenho colocado para mim como desafio, que sábado pela manhã é o momento de sentar e escrever, mesmo que sejam algumas poucas (ou muitas) linhas. Sábado também é dia de dormir uma hora a mais e levantar já com o pensamento mais leve, sem ficar criando listas de coisas a fazer no dia. Para quem é empreendedor, não tem muita definição do que é horário comercial, dia de semana ou fim de semana, e como boa capricorniana, eu adoro trabalhar, amo mesmo... então sem perceber eu trabalho de domingo a domingo, pois meu trabalho não é um fardo, é uma felicidade ser útil e produtiva. Entretanto, me policio para ter essas pausas ou momentos desacelerados, e assim manter a sanidade mental. Mas bem, esse é um assunto para outro dia.

Durante essa semana, eu não pratiquei nenhum dia do meu diário da manhã. Sim, pequei comigo mesma. Então hoje fui olhar as afirmações da semana e percebi que realmente não deveria ter feito, porque as afirmações seriam incompatíveis com o momento que vivenciei. O universo sabe muito mais sobre nós do que nós mesmos, indiferente do nível de autoconhecimento que estejamos.

Sou Umbandista e faço parte de um grupo de quase 170 médiuns. Nessa semana, exatamente na terça-feira, perdemos uma irmã de forma inesperada e precoce. Apenas 26 anos. A lembrança que guardei para mim foi a do largo sorriso que ela sempre distribuiu nos momentos em que cruzamos. Ela era das antigas no Templo, mas ainda não tínhamos uma relação de tanta proximidade. Admirava ela como mãe, desfilava com sua filhota sempre grudadinha e sem deixar de cumprir suas tarefas no terreiro. Ela era responsável por distribuir as senhas aos consulentes, e esse foi nosso primeiro contato. Quando comecei a frequentar o Templo, eu tinha até mesmo um pouco de medo, pois ela tinha uma seriedade para falar com os consulentes. Depois com o tempo e observando a forma como as pessoas se direcionavam a ela, entendi o porquê daquela postura. Nem todo mundo entende que temos um horário a cumprir e um número limitado de atendimentos e principalmente que estamos em um solo sagrado que prega a paz, o amor e a caridade. Mas sabe que ela gerenciava muito bem isso, e por mais que aumentasse semanalmente a procura, ela sempre dava um jeitinho de passar todo mundo, ou pelo menos aqueles que tinham mais paciência de esperar até o final. Ela era muito bem quista pela família Beira Mar, e vai continuar sendo.

Sua partida inesperada e precoce, deixou todos em choque. Por mais entendimento que temos sobre que estamos aqui neste plano apenas de passagem, é difícil digerir uma notícia dessas. Somos apenas espíritos tendo uma experiência humana, necessária para nossa evolução. Mas aí me pergunto, ela tinha apenas 26 anos. Tão jovem, tão cedo? E aí vem a imagem dela sorrindo. Ela era uma pessoa iluminada, cumpriu sua missão por aqui. Como eu disse a uma amiga, agora ela é mais evoluída que nós, que continuamos aqui tendo que compreender nossos perrengues.

Voltando ao diário da manhã. A afirmação de segunda-feira era: “faço a diferença no mundo ao meu redor”, ela fez. A última publicação dela foi da felicidade do processo de emagrecimento que ela estava se dedicando. Ela inspirava outras pessoas. Na terça: “a sinceridade dos meus sentimentos vai inspirar outras pessoas”, viu... ela inspirava.

Tá, mas porque eu falei que foi até bom que não fiz? Eu fui designada para dar a notícia do falecimento dela, para o grupo da família. Ao receber a notícia, eu não acreditava, achei que não tinha ouvido direito e fiquei ouvindo o áudio da mãe Adri por 5 ou 6 vezes eu acho. Eu não assimilava. Depois respirei e disse pra mim mesma, age Paula. Você precisa agir. Você precisa avisar as pessoas. Mas como? Primeiro precisava ter a certeza de quem era, nos acostumamos a nos chamar por apelidos que raramente sabemos nome e sobrenome de todos. Eu precisava estar calma e escrever o comunicado e avisos de aula cancelada, por mais que meu corpo tremesse inteirinho. Escrevi e apaguei não sei exatamente quantas vezes, olhei no relógio, precisava agilizar.

Pedi uma luz, escrevi e enviei. Até peço perdão caso eu não tenha usado as melhores palavras, mas nesse momento o que menos temos, são palavras. Quando fui desabar, fui interrompida por mais de 40 pessoas me chamando no whats, chamada de voz, chamada de vídeo, ligações... eu não sabia quem respondia primeiro. Mais uma vez respirei. Na faculdade de Relações Públicas não ensinam protocolos para esse tipo de situação onde o coração é maior que a razão. Ainda não tínhamos muitas informações, mas fui respondendo um a um. Mesmo tremendo inteirinha, pedia para que todos mantivessem a calma, fizessem suas orações e aguardassem mais notícias. Dali em diante não consegui pensar em mais nada, só respondendo a todos.

Quando eu vi que não tinham mais notificações, aí sim, a RP caiu por terra e eu desabei. Me permiti chorar e sentir a tristeza que estava dentro de mim. Geralmente até me acho coração de pedra em relação a morte. Só que um baque desse ninguém está preparado. Foi uma dor semelhante a dor de quando perdi minha prima na tragédia da Boate Kiss e que eu de novo fui portadora da notícia para muitas pessoas e só depois eu desabei.

Foi um fim de dia difícil, me acolhi no colo dos meus filhos. Na quarta-feira a afirmação era: “vou encontrar um motivo para sorrir e gargalhar hoje”. Isso seria impossível, visto que estávamos nos preparando a ir para o velório e fazer um lindo ritual de despedida umbandista. Lá estavam muitos irmãos, todos de branco e os já sacerdotes com suas estolas douradas. Pessoas que não víamos a muito tempo devido a nossas atividades suspensas pela pandemia. Foi confortante abraçar e sentir a energia da nossa egrégora. Durante o resto do dia eu não conseguia me concentrar em nada, muito menos gargalhar, e olha que eu não pago imposto para gargalhar. Então entendo que essa falha com o Diário foi boa por um lado, pois viver a tristeza também faz parte da nossa vida, da nossa evolução.

Hoje, sábado, retornei ao Diário e li a afirmação: “Sou uma pessoa boa o bastante, inteligente o bastante, e, além disso, as pessoas gostam de mim”. Uma ótima afirmação para retornar. Sempre digo aos meus filhos, sejam bons para os outros, que o universo te retribuirá na hora certa. Em meio ao velório, uma das irmãs me abraçou e disse, “obrigada, obrigada, eu te amo!” Na hora fiquei um tanto sem reação, é uma frase que não estou acostumada a ouvir de alguém além do meu marido e dos meus filhos. Mas depois entendi, que para alguns eu fui o suporte daquele momento. Assim como alguns foram para mim. Ali eu vi, que o meu zelo com as palavras e estar disponível para responder a todos, mesmo que com pouca informação, foi importante. 

Para você que chegou até aqui, deixo a sugestão: diga o que sente e o quanto admira seus amigos, seus mentores, pessoas além da sua família. Demonstre sua gratidão por tudo que essas pessoas fazem por você e para você, mas lembre-se a gratidão vem do coração, não é uma obrigação. Pode ser um sinal para que elas se sintam amadas e percebam o quão são importantes. Há quem não acredite que possa ser amado e ser inspiração para outras pessoas. Isso acaba criando uma armadura e a pessoa não se permite a certos sentimentos. Meu aprendizado aqui é me desarmar.

Minha gratidão a quem se permitiu ler todas essas linhas e que faça sentido para a sua vida! Por fim, já deixo a afirmação de amanhã: “Eu me divirto. A vida é curta demais para me levar tão a sério”. Percebeu como o Universo é muito sábio. Observe mais as sincronicidades da sua vida!

Gratidão e Axé!

Bju da Paulinha.

@paulinhasaccol 


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