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Tendências que estão moldando o comportamento do consumidor no futuro

Tendências que estão moldando o comportamento do consumidor no futuro
D.J. Castro
mai. 1 - 14 min de leitura
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Atualmente vivemos essa era de aceleração cade vez maior em todos os sentidos, mais lançamentos de produtos, mais informação à disposição, mais eventos, constantemente tem alguma coisa acontecendo e a sensação de que estamos perdendo algo é sempre presente. Se essa percepção de aumento de velocidade gera ansiedade nas pessoas, do ponto de vista da gestão de empresas e marcas, o efeito é o mesmo. É cada vez mais difícil prever o comportamento dos consumidores e definir estratégias efetivas para atender suas necessidades, demandas e desejos.

Pensando nessa questão complexa, a IDEO, um dos principais escritórios de design do mundo, elaborou uma pesquisa com seus clientes e parceiros, para entender melhor o momento atual, os desafios e oportunidades, para gerar insights e novas estratégias para conectar novas ideias, lançar novos produtos e contribuir para a evolução da sociedade de uma forma construtiva e positiva. 

A partir da pesquisa, alguns padrões foram detectados, e eles apontam tendências para o futuro do comportamento dos consumidores que devem ser levadas em consideração pelas empresas que querem ter mais sucesso no mercado. Aqui estão os primeiros 4 fatores apontados nesta pesquisa:

1. Uma reviravolta na "economia de atenção"

Novas tecnologias surgiram para conectar as pessoas, que adoram seus smartphones e apps, e vivem ligadas neles. Mas tudo que é feito em excesso pode virar um problema, e é isso que a sociedade já está percebendo. Piora no déficit de atenção, questões de privacidade e acesso aos dados pessoais, e até mesmo o vício estão em pauta como problemas sérios gerados hoje.  

Os próprios criadores dessas tecnologias inovadoras sabem do problema, e há vários casos de fundadores de empresas de tecnologia que matriculam seus filhos em escolas Waldorf e evitam que eles utilizem dispositivos eletrônicos. 

Novas descobertas médicas apontam que é preciso cuidado e controle no acesso das crianças aos computadores, smartphones e tablets. 

Com o desenvolvimento desse fenômeno, surge a possibilidade das empresas criarem um cargo responsável pela ética na empresa –– O Chief Ethics Officer.

Esses problemas estão gerando atitudes de controle em diversos níveis. O governos estão querendo regular mais a indústria, e a Lei Geral de Proteção de Dados é um grande exemplo de ação que já está sendo tomada nesse sentido. Podem ser criadas áreas livres de vigilância, com proibição de reconhecimento facial, e as mídias sociais podem ter uma mudança de curso, com o surgimento de novas experiências digitais anti-sociais, para proteger a privacidade e a saúde mental das pessoas.

2. A mente multifuncional

Vivemos um momento de fuso constante, com múltiplos impactos cognitivos simultâneos desviando a nossa atenção e tomando nosso tempo. Ao mesmo tempo em que ferramentas digitais surgiram para nos auxiliar a dar conta de mais trabalho em menos tempo, esse processamento paralelo de informação aumentou muito a carga de trabalho, gerando stress. Manter a produtividade é um desafio. 

As plataformas digitais se fundiram com a nossa vida, e nossa identidade se reflete digitalmente. Nossas crenças, opiniões, ideias, e muitos dos nossos dados estão plenamente disponíveis para quem quiser pesquisar.

Há a esperança de que a Inteligência Artificial vá ajudar a diminuir a carga de trabalho e auxiliar as pessoas. Mas essa tecnologia também deve tornar obsoletos muitos postos de trabalho que realizam tarefas repetitivas. Como essas pessoas desempregadas vão ocupar seu tempo? Novas funções terão que ser criadas para dar conta dessa demanda, ou um novo modelo de sociedade vai ter que ser aprimorado para manter padrões mínimos de dignidade para todas as pessoas a partir da geração de riqueza realizada pela tecnologia. 

Bancos, universidades e empresas terão que criar estratégias para preparar as pessoas para os piores cenários, capacitá-las e empregá-las em novas funções produtivas. 

3. A devoção distribuída

Estudos apontam que as novas gerações tendem a ser menos religiosas. Mas isso significa que elas passam a ter a necessidade de preencher o vazio espiritual com outras atividades. Sam Harris afirma que a espiritualidade não precisa ser diretamente conectada a uma religião. Assim, essa energia é focalizada na participação de atividades que proporcionem satisfação emocional, seja individualmente ou em grupo. A prática de Yoga, grupos de culinária, atividades esportivas diversas, música, canto, meditação, várias opções existem para criar um senso de comunidade, pertencimento e realização. 

Os millennials gostam de se reunir, independentemente de religião, para compartilhar momentos, experiências, aprendizados. E é uma geração que aceita muito melhor a diversidade, o que gera oportunidades novas de troca de ideias e evolução pessoal. As pessoas querem compartilhar sua visão de mundo de uma forma positiva e, em tempos de tanta polarização política, essa é uma contra-tendência interessante para ser considerada.

As empresas poderão criar um cargo para gerenciar as crenças –– Chief Belief Officer. Micro-grupos de compartilhamento de experiências espirituais poderão substituir as igrejas tradicionais. Um novo senso de comunidade pode ser criado nos ambientes de trabalho, com ganhos para todos. 

4. O novo normal

A contravenção e a transgressão estão sendo normalizadas. Na política, estamos vendo líderes agindo de formas que seriam absurdas há pouquíssimo tempo atrás. O decoro é algo muito delicado e, ao quebrá-lo, os políticos, que deveriam ser exemplo positivo, influenciam negativamente milhões de pessoas. Reverter essa tendência exigirá muito tempo e esforço das pessoas que se sentem escandalizadas com essa situação. 

Além disso, a sociedade está mais leniente com práticas que antes eram tabu. Um exemplo é o uso de drogas, como a cannabis. Em vários estados dos Estados Unidos, Portugal, Canadá, Holanda e outras partes do mundo, a legalização da maconha é uma realidade. Inicialmente liberada para uso medicinal, nesses locais ela já pode ser usada de forma recreativa, e deixa de ser tratada como caso de polícia, passando a ser orientada pelas políticas de saúde pública. Outras drogas podem seguir esse caminho. 

Um outro exemplo é a morte assistida, que começa a ser autorizada com mais frequência e está sendo legalizada em alguns países. O direito de escolher como e quando morrer deixa de ser tabu e pode passar a ser uma prática normal. Enquanto algumas empresas, como a Calico, buscam estender a vida para sempre, algumas pessoas querem apenas morrer em paz.

Oportunidades de negócios surgem na indústria farmacêutica, com remédios à base de canabidiol, tratamentos e processos para a eutanásia, e que podem gerar novas grandes corporações. 

5. A aceitação dos alimentos geneticamente modificados 

A ameaça do aquecimento global está complicando a produção de alimentos em escala planetária, e para superar esses desafios novas técnicas estão sendo desenvolvidas. A convergência de edição genética (CRISPR), Inteligência Artificial (IA), Internet das Coisas (IoT), agricultura de precisão e novas técnicas analíticas está gerando novas categorias de alimentos, com a promessa de muito mais produtividade por hectare.

Alguns exemplos: carne e peixe criados em laboratório, vinho e whisky moleculares, claras de ovos sem precisar de galinhas. Um universo de possibilidades está se abrindo. 

Mas é preciso uma mudança de percepção das pessoas. Há uma sensação de desconfiança em relação aos alimentos geneticamente modificados e aos alimentos "sintéticos".

O acrônimo "GRAS" (Alimentos geralmente aceitos como seguros) foi criado pelo FDA (A agência reguladora de alimentos dos EUA) e surge como o padrão para a aceitação de alimentos cientificamente modificados.

6. A síndrome de Peter Pan

Com os ganhos na expectativa de vida da população, há uma mudança consistente no comportamento das pessoas em busca de uma eterna juventude, seja na atitude ou na qualidade de vida. Especialmente os baby boomers (nascidos entre 1950-1960) se dedicam nesse sentido, retardando ao máximo a chegada da velhice. Mas eles não são os únicos. As novas gerações também estão estendendo as etapas mais jovens da vida, demorando mais para assumir os compromissos da vida adulta e se dedicando a atividades que antes eram mais relacionadas às faixas etárias mais jovens. Muito millenialos decidem não ter filhos e curtem a juventude por mais tempo. E esse tempo é dedicado a viagens, lazer, video-games e tudo que relembre os anos anteriores de suas vidas. 

Para ter uma ideia, enquanto os mais velhos estendem sua vida profissional além dos 70 anos, os jovens estão priorizando carreira em vez de constituir família, retardando ao máximo ou mesmo eliminando a geração de filhos. 

No ambiente de trabalho, grandes corporações de tecnologia criam ambientes que reproduzem o clima da universidade, das áreas de convivência aos dormitórios. Serviços de compartilhamento de residências como foco nos mais velhos estão sendo criados (Silvernest: www.silvernest.com), e já existem até mesmo serviços que oferecem "netos sob demanda" para preencher a necessidade de socialização dos mais velhos que não tem mais família (Papa: www.joinpapa.com).

Um grande desejo das pessoas que querem se manter jovem é simplesmente viver para sempre. Com esse objetivo foi criada a Calico, empresa do Grupo Alphabet (holding que controla o Google). A Calico financia pesquisas para a extensão da vida e o seu propósito é, simplesmente, "acabar com a morte". Bilhões de dólares estão sendo investidos para criar a utopia da vida eterna. 

Com todas essas transformações, as questões surgem: Como os planos de aposentadoria deverão ser estruturados para dar conta dessa nova longevidade das pessoas? Voltaremos ao formato de vilas com a convivência  simultânea de múltiplas gerações? O quanto poderemos alcançar de extensão de vida? Conseguiremos criar um sistema de upload dos dados cerebrais e memórias para uma central computadorizada, conquistando a vida eterna?

7. Pensar o Planeta em primeiro lugar

As mudanças climáticas estão gerando mudanças de comportamento nas pessoas. A "Ansiedade climática" é real e já impacta os negócios. Os países nórdicos já tem campanha para envergonhar quem viaja de avião sem motivo. A pirâmide de Maslow está sendo revista, repriorizando os hábitos de consumo das pessoas com foco em sustentabilidade e na economia circular, ou seja, um sistema em que tudo é reaproveitado, sem desperdícios. Esse é o grande objetivo. 

As corporações estão cada vez mais no alvo, e sendo chamadas à responsabilidades por conta de ações que prejudicam o meio-ambiente, a ética e a privacidade das pessoas. 

As B-Corps surgem como um modelo de companhia que tem como prioridade uma postura ética em todos os sentidos, e deixar o planeta melhor do que o recebeu. Essa prática está se disseminando rapidamente, pelo exemplo, entre outras empresas de todos os tamanhos.

Um grande exemplo de atitude positiva é o da Patagonia, marca de roupas esportivas, que doou milhares de hectares para o governo chileno, a maior doação de terras de uma empresa privada em todos os tempos, criando um grande parque nacional para a preservação do ecossistema patagônico. 

Em um mundo cada vez mais consciente com a ecologia, como os países desenvolvidos compensarão os estragos que já fizeram no meio-ambiente? Será que o termo "circular" vai virar uma categoria de produto? Como as empresas devem reagir e se posicionar frente às mudanças comportamentais?

8. Uma nova relação com a Escola

Estamos vivendo a quarta revolução industrial. Isso exige novas capacidades técnicas e novas abordagens de aprendizado. Setores que estão desaparecendo criam desemprego e a necessidade de recapacitar os trabalhadores mais velhos. Ao mesmo tempo, a demanda por novas competências muda a um passo mais rápido que as universidades conseguem acompanhar. 

O exemplo de empreendedores de sucesso, como Mark Zuckerberg, Bill Gates, Steve Jobs, que largaram a faculdade para construir grandes empresas, pode criar a ilusão de que não fazer faculdade é o caminho. A oferta de cursos rápidos favorece a velocidade de aprendizado e atrai os novos trabalhadores. 

Os modelos educacionais estão sendo reinventados, com plataformas online de educação, novas tecnologias multimídia sendo utilizadas para o aprendizado e a capacidade de aprender sobre qualquer assunto, bastando estar conectado à internet. 

No futuro próximo, será que os cursos rápidos substituirão integralmente o diploma universitário? Como garantir consistência no aprendizado e um padrão básico de competência em grande escala na nova força de trabalho? Quem será responsável pela recapacitação das pessoas, governo, empresas, entidades filantrópicas? Qual o futuro da escola pública?

Compreender as tendências para desenhar estratégias efetivas

Os gestores de marketing devem sempre avaliar quais tendências influenciam seus mercados-alvo, entendendo as necessidades reais das pessoas, traçando cenários de possibilidades de reação às ações previstas. Quanto maior a base de conhecimento sobre os clientes, melhor preparada uma marca vai estar para navegar esses tempos complexos e atingir sucesso de forma mais eficiente. O mercado está mudando repidamente, o comportamento das pessoas está se transformando rapidamente e, num processo darwiniano, as marcas que melhor se adaptarem vão sobreviver e prosperar.

Como podemos ver, são muitos desafios simultâneos que impactam o ambiente global e alteram o cenário nacional e regional. É preciso que os gestores avaliem com clareza essas transformações, conectando os pontos que fazem sentido com as áreas de atuação de suas empresas, para poder estabelecer estratégias eficientes para posicionar suas marcas e ter sucesso no mercado. Em um cenário de constante transformação as oportunidades surgem  para todos, mas só são aproveitadas por aqueles que estão atentos.

 

 


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