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Criatividade das restrições, ou porque a vida deveria imitar a arte.

Criatividade das restrições, ou porque a vida deveria imitar a arte.
Melissa Rasera
dez. 11 - 5 min de leitura
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NOTA DA REDATORA: As ideias e opiniões expressas nesta publicação são as da leiga e entusiasmada autora e não refletem obrigatoriamente conhecimento avançado sobre os temas apresentados. 


Vou começar com uma pergunta que parece simples (resposta no final do artigo):  

Quantas combinações são possíveis utilizando 6 peças de Lego no formato 2x4?  

Pensou? Agora vamos ao texto... 


Normalmente quando se pensa em criatividade, muitas pessoas imaginam que para ser criativo deve-se deixar a mente fluir solta, sem limites, esperando o momento em que a inspiração vai surgir espontaneamente, do nada. Também ligamos esse conceito de criatividade à arte, certo?

A maioria das pessoas conhece a música “Construção” do Chico Buarque. Esta canção possui algumas particularidades geniais. A letra foi composta em versos dodecassílabos (12 sílabas) que sempre terminam numa palavra proparoxítona e, além disso, foi escrita no auge da ditadura militar.

Agora pare para pensar. Será que Chico acordou um belo dia, olhou pela janela e decidiu escrever a maior canção brasileira de todos os tempos pela revista Rolling Stones em um rompante?

A resposta é óbvia, claro que não.

Arte é técnica. Arte é um processo consciente e, ouso dizer, um processo racional.

Para aqueles que duvidam, faço questão de apresentar uma corrente literária que surgiu na França na década de 60 chamada OULIPO, sigla no francês para Ateliê de Literatura Potencial. O objetivo deste grupo, formado por escritores e - pasmem - por matemáticos, é a investigação e aplicação de estruturas matemáticas e/ou restritivas (chamadas contraintes) na produção textual e, com isso, criar possibilidades ilimitadas. Para os oulipianos, as regras e técnicas elaboradas e autoimpostas constituem um estímulo a mais para a criatividade, para a fantasia e para encontrar inúmeras soluções imprevistas e inusitadas.

Um dos grandes nomes do OULIPO é Georges Perec. Entre suas inúmeras obras que vão de um livro de mais de 300 páginas sem utilizar a letra “e” - a mais comum na língua francesa - (La Disparition), ou um conto de 1300 palavras que, se lido de trás pra frente, letra a letra, a história é exatamente a mesma (Le Grand Palindrome).

Mas segundo muitos, sua obra-prima é “A Vida Modo de Usar”, um livro escrito com base em um tabuleiro 10x10 originando 99 capítulos e onde cada capítulo possui 42 restrições provenientes de 42 tabelas com 10 possibilidades cada, gerando 1042 possibilidades de inserção de elementos. (imagem abaixo)

(Tabuleiro representando o prédio de A Vida Modo de Usar e uma das 42 tabelas de restrições para formar o texto de casa um dos 99 capítulos. Sim, esses quadros representam literatura pura! )


 

« Au fond, je me donne des règles pour être totalement libre. »  « No fundo, eu me coloco regras para ser totalmente livre. »
– Georges Perec


Alguém lendo esse artigo pode até se perguntar: mas o que esse tal de OULIPO tem a ver com meu dia-a-dia, minha empresa,  meu negócio? Minha intenção aqui é chamar a atenção para o conceito de utilização de restrições do OULIPO. Acredito que esse método pode nos ajudar muito no processo criativo para superar momentos críticos e, principalmente, encontrar diversos caminhos e soluções inusitadas.  

Estamos cercados por restrições. Técnicas como o elevator pitch, restrições orçamentárias, deadlines de projetos, posts no Twitter (que somente depois de 11 anos de existência, aumentou o limite de caracteres de 140 para 280) e, hoje em dia, todas as restrições sociais causadas pela Covid-19.   

Então como superar essas limitações?  

Fala-se muito em “pensar fora da caixa”. Será mesmo essa a solução?  

Acontece que, às vezes, a caixa é tudo que temos ou os limites da caixa são extremamente rígidos (por exemplo, quando somos limitados por questões legais). Porém, recuso a aceitar que esses limites impeçam o processo criativo. O que precisamos mesmo é repensar a caixa, desconstruí-la e enxergá-la por outra perspectiva.   

what's is it ? an adult : a box ! a child gives a lot of different ...  

Assumo que trabalhar com restrições não é fácil. A grande verdade é que restrições nos incomodam, e muito. Elas nos forçam a sair do lugar-comum, ajudam a melhorar o foco, a quebrar barreiras conceituais. Obstáculos e limitações aumentam a capacidade cerebral, ajudam a pensar melhor, aumentando as possibilidades através da expansão das nossas percepções e conceitos gerando, com isso, ideias inovadoras. Mas um ponto importante é que isso somente acontece quando estamos conscientes desse processo.   

Criatividade é uma arte. E como já disse no começo, arte é técnica, um processo consciente e racional.   

Então, crie restrições, acolha as restrições, conheça as restrições e liberte sua criatividade.  


Ah sim! E quanto à pergunta “Quantas combinações são possíveis utilizando 6 peças de Lego no formato 2x4?”. A resposta é 915.103.765.   

Agora pegue empresetado o Lego de alguma criança ou compre uma caixa e divirta-se. 😊   

 

Mais informações acesse - https://cutt.ly/inovadoresinquietos   

 


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