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Bambuzinhos da sorte

Bambuzinhos da sorte
Cláudia Kunst
Aug. 31 - 5 min read
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Minha filha Laura e eu resolvemos almoçar na casa da minha mãe, dia desses. Domingo em família, comida boa da mãe, carne assada feita pelo pai. Do jeito que gostamos. Chegando lá, minha irmã, toda orgulhosa, mostra seu quarto, onde montou seu escritório, cheio de badulaques de papelaria – que ela ama - e, entre eles, o seu mais novo mascote: um bambuzinho da sorte.

Minha filha tem uma personalidade muito própria, mas como o DNA familiar é muito forte, apresenta nuances das personalidades de seus padrinhos. A minha irmã, que é madrinha dela também, tem uma coisa diferente com a Laura. Uma cumplicidade que permanece um tanto oculta. Gostos por perfumes, badulaques, roupas... Toda vez que minha filha visita a minha mãe, ela entra no quarto da minha irmã e começa a vasculhar por novidades. Sempre encontra! E quando isso acontece, ela grita: -“dindaaaaaaaa”. E minha irmã para o que estiver fazendo para ver qual será o próximo pedido da afilhada. Dia desses, a minha filha saiu com um perfume e um casaco.

Minha irmã recorda muito da primeira infância da Laura. Talvez porque minha filha ficava na casa da minha mãe enquanto eu trabalhava e minha irmã ainda era praticamente uma adolescente. “Ainda lembro quando a Laura era bebê, aquele cheirinho dela... coisa boa”, recorda a dinda em rodas de conversa da família.

Eu lembro pouco da adolescência da minha irmã, pois nesta fase, eu tinha meus compromissos e passava muito tempo longe de casa. Não curti minha irmã na melhor fase dela. E antes disso, quando eu estava na adolescência, confesso, eu era um pouco hostil com ela, pois os seis anos de diferença que temos, faz toda diferença quando se tem 16 ou 17 anos. Embora dormíssemos no mesmo quarto, eu não a queria lá, pois era o meu templo. Eu me sentia dona dele e, ela só podia entrar mesmo para dormir. A grande questão é que uma adolescente não quer uma criança em seu calcanhar.

Mas da infância da minha irmã eu lembro muito bem. Pra mim, ela era o bebê mais lindo de todo o mundo. As bochechas fofas e aquele narizinho redondo. Ela era dentucinha e tinha um sorriso todo meigo. Eu passava horas com ela perto de mim enchendo aquelas bochechas de beijos. Lembro como se fosse hoje, que o primeiro banho de chuveiro dela, eu que dei. E já sabia, mesmo com pouca idade, que eu precisava cuidar em dobro deste banho, pois não poderia molhar seus ouvidos por conta de duas cirurgias que ela fizera. Banhava dois punhadinhos de algodão no óleo Johnson & Johnson e colocava em um em cada ouvido. Só aí é que entrávamos debaixo d´água.

De uns anos pra cá, minha irmã e eu passamos a nos dar muito bem. Posso afirmar que ela é minha melhor amiga. Mas ainda assim, minha irmã caçula.

Naquele almoço, a Laura viu o bambuzinho da sorte no quarto da minha irmã e logo quis um pra ela também. Toda espirituosa, Laura disse: - “mãe, se tu comprar um pra mim, eu até arrumo meu quarto hoje”. E, entrando na brincadeira, eu disse: “bom, então não me importo de transformar o teu quarto numa floresta se tu arrumar ele todos os finais de semana”. Passamos então, na floricultura e compramos o tal bambuzinho para ela colocar em seu quarto “para dar sorte”.

Laura e eu também temos nos entendido melhor de uns tempos pra cá. Muitas mudanças em nossas vidas fizeram com que tivéssemos momentos de afastamento. Mas agora, somos muito próximas.

Hoje percebo uma cumplicidade entre minha irmã e a Laura também. A Laura, com aquele jeitão, parece comigo quando eu me adonava do quarto. Mas com todas as nuances e entrelinhas, consigo perceber o amor das duas. E elas também reconhecem este amor.

Ao anoitecer, olhei o álbum de infância da Laura e fiquei emocionada. Lembrei de tantos momentos lindos. Queria ter estado mais com minha irmã na sua adolescência. Queria ter estado mais com a Laura na sua infância. Mas em todos aqueles anos eu não dominava a minha própria vida. Hoje, em nova fase, eu percebo o quanto aprendi com isso. E percebo que a minha gratidão é imensa. Não existe tempo perdido. Existe tempo de aprendizado. E eu tenho muita sorte de ter elas comigo como se fossem meus próprios bambuzinhos da sorte.


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