O mais interessante de estudar tecnologia é perceber os impactos diretos em nossos comportamentos sociais.
Um exemplo simples: quantos minutos você espera por um Uber hoje? Posso apostar que são poucos os que aguardariam mais de 10 minutos. No entanto, não faz muito tempo, a gente esperava muito mais por um táxi.
Nesse sentido, pergunto: qual será o impacto social quando 70% (ou mais) dos casais forem formados por aplicativos de relacionamento?
Algumas tendências já estão sendo apresentadas por estudos diversos: de um lado vemos o aumento dos estereótipos de gênero e o crescimento de comportamentos como o ghosting (desaparecer do nada de uma conversa) ou o orbiting (não conversar, mas ficar seguindo nas redes sociais e curtindo publicações). De outro lado, pesquisas indicam maior número de relações inter-raciais.
Ou seja, para o bem e para o mal, mudanças estão aí para ficar.
Mas o que me preocupa é que relações amorosas, aquelas que formam a base da família que por sua vez é um dos pilares mais importantes da sociedade, estão sendo mediadas por algoritmos.
E algoritmos nunca são neutros, em especial aqueles controlados por grandes empresas de tecnologia, como o grupo InterActive Corps que é dono de grande parte dos aplicativos de relacionamento.
Os algoritmos servem aos interesses dessas empresas e não aos nossos, usam os critérios delas, são sua fonte de lucro. E, vale ressaltar, que vale mais para elas terem usuários frequentes do que encontros certeiros. Simplificando: ajudar você a encontrar o amor da sua vida não é bom para esse modelo de negócio, ter você retornando ao app sim.
Isso tudo em meio a uma sociedade que estimula relações cada vez mais líquidas, dentro da qual estamos nos acostumando a nos conectar e desconectar dos outros com facilidade, sem olhar nos olhos.
Qual será o efeito disso no longo (ou até médio) prazo?