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Se deus me chamar não vou, não morro.

Se deus me chamar não vou, não morro.
Maiara Mota
Jan. 20 - 2 min read
010

Título: Se deus me chamar não vou
Autor: Mariana Salomão Carrara
Editora: Nós
Ano: 2019

Sou fã declarada das narrativas em 1ª pessoa justamente pela possibilidade de experimentar outras existências e, não sei em que momento depois da escola meu carisma se perdeu, mas como uma ex criança popular, ainda não tinha vivenciado a solidão dos 11 anos antes de conhecer Maria Carmem.

Com uma genialidade comicamente inocente, a leitura de Se deus me chamar não vou é similar a sensação de tomar um soco no estômago enquanto você come uma trufa e alguém te dá beijinhos na testa.

 

“Será que o vaga-lume pisca de dor? Se eu pudesse piscar de dor eu seria um escândalo.”


A escritora, Mariana Salomão Carrara, questiona quase que sem querer os acontecimentos cotidianos, sob a percepção de uma criança. A linguagem é tão pontual que estou convencida que ela ainda tem onze anos.

Apesar de escancarar a tristezas rotineiras, o livro é de uma poesia leve com a vibe assertiva de Majur cantando ‘ano passado eu morri, mas esse ano eu não morro.’

 

Eu gosto bastante desse estilo lente de aumento de dizer obviedades, como no trecho “tudo que as palavras me dissessem me tornei obrigada a ouvir. Fico pensando quantas coisas não vou poder nunca mais deixar de saber.”; mas o que me invadiu mesmo foi o enredo de solidão que ela constrói. Essa dor, de fato, não discrimina idade.

 

"(...) eu que terei crescido que nem um apartamento grosso, e velho, e cheio de umidades, sem delicadezas nem balões coloridos, ninguém passar pra conferir se o vento não me levou porque sou inteira sólida. Acho que vem daí a palavra solidão, pessoas tão sólidas que ninguém vem checar se estão ruindo.”

 

Ler um monólogo infantil sobre arrependimentos adultos no meio do século do “fazer” foi uma afronta interna. Ainda bem.


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