não sei viver de outro modo que não criativamente. não sei falar, escrever, pensar, trabalhar, criar, maternar, me vestir ou mesmo me relacionar de um outro jeito. a criatividade "é minha matéria, a vida presente, o tempo presente" (com sua licença, drummond).
viver criativamente num mundo que padroniza as relações, o amor, a criação, o trabalho, a educação, as crianças, os corpos, a maternidade, requer coragem. demasiada coragem. coragem pra ir sendo, transformando, transmutando, jogando o corpo no mundo. coragem pra se despir de tudo aquilo que está posto e nos é imposto. coragem para questionar a normalização do absurdo. coragem pra quebrar institucionalizações, normatizações, padrões. coragem para romper velhos modelos políticos. coragem para questionar. coragem para cantar, para falar. para se colocar no mundo. coragem para - apesar do assombro que nos ronda nesses tempos - levantar uma bandeira que diga, a criatividade salva! nos salvará. nos fará criar uma outra vida, um outro jeito de viver em sociedade. e essa nova vida terá por princípio a liberdade. isso implica em refazer a rota e refazer a nós mesmos, cotidianamente. a cada segundo. e então perceber que a vida criativa é combustível essencial para a transformação social.
digo pra mim mesma e pra minha criança. essa, que me habita e aquela que eu pari e que nesses 4 anos me recoloca no caminho de apropriação dessa habilidade essencialmente minha, humana. afinal, a gente primeiro tateia o mundo pela curiosidade, pela experimentação, pelo divertimento, pela liberdade. de criar e ser. é preciso coragem pra (re)aprender o mundo a partir disso. para parir um mundo novo, possível.
digo então, outra vez: coragem, criativa! coragem, criativo!
pra existir em plenitude, só por meio da criatividade. e a criatividade, minha cara, exige coragem.
arte: Ícaro, Henri Matisse, 1943