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O "American Way of Life" no Brasil

O "American Way of Life" no Brasil
Tatiane De Cássia Ortega Rausch
Mar. 9 - 4 min read
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Desde muito jovens fomos ensinados que é fundamental aprender inglês no Brasil, mas nunca nos disseram exatamente qual o motivo desta necessidade. Uns falam que é para conseguir um emprego, outros que as portas se abrem, mas... como exatamente?

Lembro-me de vivenciar cenas ridículas e vexaminosas no transporte público, onde grupos de jovens ficavam conversando entre si em inglês para parecerem superiores e inclusive riam de quem não compreendia. E eu só pensava "céus, é pra isso que precisa aprender inglês?".

Essa cultura de tudo que o que vem de fora é superior, elitista e excludente se estende ao meio acadêmico e corporativo. Os babacas lá da minha adolescência cresceram e ao que tudo indica estão dentro das empresas, replicando estes e outros comportamentos absurdos.

Realmente não compreendo essa hipervalorização dos Estados Unidos no Brasil, replicamos a cultura, o consumismo, as músicas, utilizamos palavras em inglês no cotidiano (até nas novelas) quando temos um idioma riquíssimo e muito mais completo. Por aqui encontro muito mais pessoas que sonham em ter coisas, do que ser alguém.

No Brasil paquera virou crush, dar um perdido virou ghosting e algo legal virou top.

Sou formada em Design de Produto e após uma temporada na Espanha, onde me aperfeiçoei em Artes Visuais e Educação voltei pro Brasil. Confesso que levei um susto! Na minha área de atuação cliente virou customer ou patrocinador, a área de pesquisa virou research e o desenvolvimento de produtos foi picotado em pedaços, o discovery, research e owner - uma nova versão para a palavra chefe.

Tudo o que aprendi na faculdade virou uma série de ferramentas de imersão de finais de semana, os bootcamps, e o tal Design Thinking que estudamos por quatro anos virou um pacote que pode ser parcelado em 12x no cartão.

O designer é um profissional curioso e questionador em essência, nosso trabalho vai muito além de ferramentas de finais de semana com nomes em inglês. Estamos sempre conhecendo e estudando novas culturas, artes, tecnologias e em profundidade o ser humano e o comportamento em sociedade. Tudo isso é amadurecido conforme vamos envelhecendo e ganhando experiência de vida.

Para todas as vagas de emprego nacionais, as quais não teremos contato com nenhum chefe, ou cliente estrangeiro pedem o domínio de inglês. É necessário ter o domínio do idioma para aprender meia dúzia de jargões da área, ler livros técnicos e operar softwares? Desde que eu era adolescente e trabalhei de operadora de telemarketing já pediam isso e o máximo que eu usava era pra falar a palavra callcenter.

Nunca se interessaram pela minha experiência na Espanha e o que aprendi de design na Europa. Quando falamos em intercâmbio automaticamente as pessoas imaginam os Estados Unidos e eu nunca quis ir nem pra Disney, quanto mais estudar, ou trabalhar pelas bandas de lá.

Me questiono quando seremos um país maduro e independente se vivemos copiando outras culturas, ao invés de valorizarmos o nosso bom e velho tupiniquim, com muito borogodó nesse terra brasilis. O Brasil é um dos países mais ricos que conheço por ter essa mistura de sotaques, costumes e jeitos de ser, somos o povo mais criativo do mundo, mas jamais seremos valorizados enquanto importarmos soluções de finais de semana com nomes de treinamento militar, nós das faixas de karatê e aí vai. O lance é observar, absorver e criar a partir da experiência brasileira.

O inglês é importante? Sim, se você tiver clientes estrangeiros, for um exportador, ou pretende viajar pros Estados Unidos. Eu viajei a Europa falando espanhol e português, usei o nosso idioma até na França! 

A título informativo 9 países do mundo tem o português como idioma oficial e é utilizado por mais de 280 milhões de pessoas. E eu adoraria que fosse valorizado também no Brasil, principalmente no meio corporativo.

Tim tim! Sai com esse cheers pra lá, sai.

 

 


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