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Não existe cenário ideal. Construa o que você quer no cenário que você tem.

Não existe cenário ideal. Construa o que você quer no cenário que você tem.
Viviane de Araújo
Feb. 24 - 6 min read
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Meu universo profissional é corporativo. Quase tudo o que sei sobre Diversidade e Inclusão aprendi dentro das empresas. Quase tudo, porque depois que a maternidade chegou, meu olhar para o tema ficou ainda mais sensível e, o que já era valor, explodiu dentro de mim como responsabilidade para ajudar a entregar ao mundo um ser humano melhor do que eu em vários quesitos e em especial neste. Mas, isso é papo pra outra conversa. Esta conversa é sobre um importante aprendizado neste universo que me abriu a mente (e muitas portas) e que considero uma boa reflexão para compartilhar com você.

Durante muito tempo eu liderei projetos dentro de empresas e vi com meus próprios olhos cenários nada ideais para começar ou aprofundar um trabalho desta natureza. Muitas vezes me senti frustrada. Parecia que eu nadava, nadava e morria na praia. Não encontrava o patrocínio ideal, a estrutura ideal, os processos ideais e o envolvimento ideal das pessoas. Aos poucos, fui percebendo que não podia esperar pelo ideal e que, morrer na praia era uma decisão. E eu decidi não parar de nadar.

Quando idealizamos uma mudança, tendemos a criar expectativas revolucionárias. Nossa frustração é proporcionalmente colossal. Como queria, naquela época, saber o valor do tempo como sei hoje.

Trabalhando como consultora, já vi e ouvi de tudo, mas nos últimos anos, tenho percebido um importante crescimento no número de pessoas interessadas em trabalhar com o tema e uma vontade genuína de fazer acontecer; diferente do que acontecia lá nos primórdios. No entanto, com esta abertura maravilhosa vem também uma ansiedade que leva as pessoas a verem os desafios do seu contexto como gigantescos, quase inalcançáveis. Não raro eu ouço coisas do tipo: “ainda não estamos preparados”, “precisamos esperar o melhor momento”, “eu quero fazer, mas as portas estão fechadas”. É um “pisar em ovos”, uma tensão e muito medo de errar.

Nessas situações, eu sempre tento mostrar que não há cenário ideal ou receita pronta. Procuro mostrar que dá pra introduzir o assunto dentro da dinâmica existente e que a empresa é um organismo vivo, formado por pessoas, suas atitudes e comportamentos. Esse sempre é o ponto de partida. Estimulo as empresas a se perguntarem: “como estamos hoje”, “o que é importante para nós”, “onde queremos chegar”, “o que conseguimos fazer agora”, “como vamos avaliar nossa jornada”. E por aí vai...

Então, na semana passada, durante uma reunião com um cliente muito especial que está começando o trabalho no tema, enquanto conversávamos sobre o que já estão fazendo e as próximas ações, ouvi a seguinte frase da executiva de RH: “estamos fazendo microrrevoluções no nosso dia-a-dia”. Aquilo foi música para os meus ouvidos. Eu adoro quando isso acontece!

É muito difícil fazer grandes revoluções neste assunto. Cada empresa tem um nível de maturidade no tema, um grau de entendimento e disposição no seu momento histórico e uma cultura mais ou menos favorável a um ambiente diverso e inclusivo. Por mais que eu veja as necessidades e o potencial daquele contexto, preciso respeitar o tempo das coisas e ajudar as pessoas que estão à frente do tema a fazer essa leitura. Isso acalma seus corações e as encoraja a fazer o que é possível, o que está ao seu alcance.

É claro que certos assuntos não podem esperar. Discriminação, situações de assédio e conflitos gerados por comportamentos intolerantes são inadmissíveis. Um trabalho sério de Diversidade e Inclusão deve ter políticas claras de consequência. Mas, a construção de um ambiente acolhedor às diferenças (e tudo o que isso traz para as pessoas, para o negócio e para toda a sociedade) é um processo de aprendizado pessoal e organizacional.

Quando uma empresa entende que pode olhar para como é, projeta um ponto de chegada próximo e chega. Se, daquele ponto, define um novo ponto de chegada, segue na sua direção e sustenta essa dinâmica, vai preparando o terreno, engajando naturalmente as pessoas e, quando menos espera, já está vivendo uma cultura mais aberta, acolhedora e humanizada.

Eu adoro uma analogia que conheci muito jovem e que sempre uso. Silvia do Valle Pereira, uma querida professora da faculdade, e que também minha líder por duas vezes, dizia: “não adianta querer vender uma máquina de café expresso italiana se o cliente quer só um cafezinho, muitas vezes solúvel.”  

A empresa, tomando um ótimo cafezinho solúvel, pode aprender que há o café passado. Prova o café passado e gosta. Gostando, se interessa pelos grãos, estuda e aprende sobre safras e regiões. Depois, se interessa pelo café expresso, aprende a tomá-lo e, então, chega o momento que visualiza e deseja sua maravilhosa cafeteira italiana.

Aquela empresa, em especial, já visualizou sua cafeteira italiana, mas entendeu rápido que há o tempo das coisas. Entendeu que, passo-a-passo, com coerência, consistência e constância, já está posicionando Diversidade e Inclusão como valor organizacional. Desta forma, não tenho dúvidas de que o patrocínio, o desenho e execução da estratégia, e o engajamento das pessoas acontecerão genuinamente, como o tema deve ser dentro de qualquer ambiente.

Esta conversa foi sobre Diversidade e Inclusão, mas não só. Se você esperar pelo cenário ideal para fazer tudo o que quer e promover as mudanças em que acredita, é provável que faça nada ou muito pouco. Ideal é aspiração, imaginário, modelo, perfeição. Um cenário ideal não precisa de muita inteligência, energia, empenho. Já um cenário real, cheio de desafios, é um chamado pra quem não veio ao mundo a passeio. Eu não vim. Você veio?

Um abraço bem real pra você!

Vivi :)


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