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CIDADES CRIATIVAS

CIDADES CRIATIVAS
Christian Krambeck
fev. 4 - 8 min de leitura
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CIDADES CRIATIVAS

 

“Para que a utopia renasça, é preciso confiar no potencial humano de reformar o mundo.”

Zygmunt Bauman (1925-2017)

De onde vem tanta criatividade, resiliência e esperança do povo brasileiro?

Esse jeitinho - esse borogodó - que pode finalmente nos fazer realizar a profecia do “país do amanhã”, realizar todo o potencial de um país “amado por todos.”

Num País Tropical

Abençoado por Deus

E bonito por natureza

(Mas que beleza!)

Já, agora, não amanhã ou depois… Uma Nação Popular Tropical, solar, da floresta, das águas, da biomassa, da Amazônia, inclusiva, inovadora, democrática, sustentável, livre, acolhedora, tolerante, igualitária e fraterna para todos e com todos, sem desigualdade, sem exclusão territorial, sem concentração de renda, riqueza e poder.

Hoje somos 5.570 municípios e 210 milhões de habitantes, destes, 85% urbana, segundo o IBGE, embora se consideramos critérios internacionais e um olhar mais cuidadoso, essa proporção fique em torno de 65% de pessoas morando em áreas realmente urbanas. Destes, 15 milhões de brasileiros (7% da população) vivem em aproximadamente 7.000 favelas distribuídas por 400 municípios. Embora a criatividade brasileira esteja espraiada por todos os cantinhos do país, é nas cidades, no Brasil urbano, que ela se concentra e manifesta de forma mais intensa, efetiva e transformadora. 

E por que? Quais as características específicas do urbano, que fazem aflorar a criatividade em estado puro? Uma criatividade que, apesar de sermos um dos mais desiguais e injustos países do planeta, impulsiona e mantém a esperança e a utopia do povo brasileiro num país diferente, mais justo e inclusivo? Uma energia que os permite pelo menos sobreviver!

 

O QUE SÃO CIDADES CRIATIVAS?

É uma pergunta simples, com uma respostas complexa, ou não. Em primeiro lugar é preciso reconhecer que não basta ter criatividade para que a cidade se torne criativa. Também não é suficiente ações de marketing, propaganda, logomarcas bonitas, discurso político, ação empresarial e campanhas de todos os tipos, embora façam parte do processo.

Considerando a criatividade como inerente ao DNA brasileiro, ela está presente, de forma mais ou menos concentrada, em todas as cidades. Aproveitar este maravilhoso ativo, um patrimônio que talvez seja o mais valioso e decisivo do século XXI no mundo, para uma verdadeira transformação criativa da sociedade e cidades brasileiras, depende de uma concertação, uma decisão que não pode ser do tipo top-down (de cima pra baixo), nem bottom-up (de baixo pra cima), precisa ser transversal ou diagonal. 

Villa-Lobos: “...o brasileiro, o brasileiro, é o povo mais musical do mundo, embora não saiba se dar valor… é preciso não trocar os sentidos das coisas, não confundir o povo, o pooovoo, não confundir nem com público, nem com massa, é importante! A massa, veja bem, é a massa. O público se enfeita todo e vai para as salas de concerto com cara de quem está entendendo tudo, é preciso notar a diferença! A massa é horizontal, o público é vertical, mas o povo, pelo menos o povo brasileiro, é diagonal, é por isso que eu gosto do povo e é por isso que a minha música é popular, POPULAR, por que eu cuido muito mais do aspecto diagonal, do que o horizontal ou do vertical!

Repórter: “Maestro ele tá querendo que o senhor fale um pouquinho mais sobre essa história de “diagonal”! “

Villa Lobos, rindo: “... bom meus caros, infelizmente, rsrs, cada um que ache o seu, a sua, se arrisque, mergulhe fundo, rsrs” e, deitado enfermo na cama, recoloca o charuto na boca…

 

 

Para co-criar ou construir uma cidade criativa é preciso antes, construir a metodologia, os mecanismos e a capacidade de ação de uma “cidade sensível”, capaz de reconhecer a importância da participação social em todas as decisões, em todos os momentos; que não permita que grupos organizados de interesses privados se apropriem ou tenham privilégio no acesso aos canais políticos decisórios. São cidades que têm sensores, interlocutores e instâncias, físicas e digitais, para não apenas ouvir a população e os excluídos, mas dialogar e interagir com todos, levando em conta suas opiniões em todas as decisões de políticas públicas e investimentos. 

“Eu não sou promíscua. Mas sou caleidoscópica: fascinam-me as minhas mutações faiscantes que aqui caleidoscopicamente registro.”

Clarice Lispector

Cidades Criativas são várias cidades, são um caleidoscópio que permite vários ângulos, várias visões, várias cores, mutações e opiniões diversas e contraditórias, todas válidas ao mesmo tempo.

São uma Feijoada Brasileira, com vários ingredientes improváveis e até impublicáveis, uma mistura completa que resulta num alimento simples, poderoso, nutritivo e delicioso. Uma comida que surge da mistura entre índios, africanos, latino americanos e europeus. 

São uma equação quântica, onde não há possibilidades e vitalidade sem uma pitada de caos, sem o incontrolável, o imponderável, sem átomos livres e com algum grau de imprevisibilidade.

São lixo, orgânicas, vivas, mutantes, misturadas, adubo, impulso para novas vidas e combinações, com uma energia e potencial ainda não explorados, prontas para serem realizadas, desde que com tudo, com todos e por todos. Sem retardatários, sem excluídos, sem explorados, sem esquecidos. Com beleza, funcionalidade, estética e poesia. Nada disso existirá sem educação e cultura combinadas. 

O seu escritório, sua empresa, seu “corporate”, seu gabinete não são cidade! Não existe cidade, não existe inovação, não existe transformação criativa restrita apenas aos espaços privados. Não existe cidade sem espaços públicos de qualidade, democráticos, acessíveis e livres.

Não há cidade criativa sem cidade para as pessoas, onde todos (políticos, empresários, associações, sindicatos, universidades e comunidade) sejam capazes de dialogar e construir um novo modelo de cidade e planejamento urbano onde as pessoas e a natureza passem a ser a prioridade total. Onde as políticas públicas, projetos e investimentos priorizem o transporte público (ônibus elétricos, BRT, VLT, etc), as calçadas e ciclovias integradas, arborizadas e acessíveis; as áreas de preservação permanente,  as praças e parques urbanos e todo o tipo de espaço público que permita e estimule o encontro e a troca entre os diferentes. Que atraia as pessoas para as ruas, para viver a cidade além dos espaços privados e seus lares. Tudo isso pode ser tornar uma CIDADE CRIATIVA, um dia!

Acima de tudo, não há receita de bolo, não há caminho fácil e rápido, salvadores da pátria não são reais, nenhuma mudança acontecerá baseada em mitos ou discursos vazios. Precisamos descobrir e aprender  durante a jornada, não é pecado assumir que não temos todas as respostas, mas é preciso começar, querer fazer e mudar de verdade, transformar. Isso pra mim é Transformação Criativa, o primeiro passo, mas na direção correta e sem deixar ninguém pra trás. 

“A pessoa chega à sua maturidade quando encara a vida com a mesma seriedade que uma criança encara a brincadeira.”

Nietzsche

Antes de cidades criativas sinto que podemos ser CIDADES PEDAGÓGICAS, onde todos, principalmente nossas crianças e jovens, somos aprendizes, aprendedores e experimentadores. Aprender, viver e brincar nas ruas, pedalando, curtindo o sol e a chuva, a paisagem, debatendo, discordando, errando, servindo, fazendo nada, imaginando, sonhando e construindo a utopia de um mundo melhor para todos!

ps.: não há cidade criativa, pedagógica, sensível, integral, sustentável ou qualquer cidade se isso tudo que falamos acima, não incluir de forma integral, as favelas, seus moradores e a incrível cultura, vitalidade, soluções, criatividade e resiliência que há nas favelas brasileiras.

 

Aqui um link sobre o maior problema das cidades brasileiras em minha opinião e que impacta diretamente na possibilidade de cidades criativas ou não:

Desigualdades socioespaciais e o acesso a oportunidades nas cidades brasileiras

 

Christian Krambeck

Arquiteto e Urbanista, empresário e professor de arquitetura e urbanismo FURB.

Contato: 99340199

Cpf.:  989.140.659-87 Rg.: 3.060.646

christian@terra.arq.br 

02 fevereiro 2020

 

Vale a pena conhecer mais sobre Heitor Villa-Lobos e esta história ou estória


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